Arrisque-se

Só quando nos arriscamos é que realmente vivemos (Willian James).

terça-feira, 20 de maio de 2014

Como elaborar uma resenha

Como elaborar uma resenha

1. Definições

Resenha-resumo:
     É um texto que se limita a resumir o conteúdo de um livro, de um capítulo, de um filme, de uma peça de teatro ou de um espetáculo, sem qualquer crítica ou julgamento de valor. Trata-se de um texto informativo, pois o objetivo principal é informar o leitor.

Resenha-crítica:
     É um texto que, além de resumir o objeto, faz uma avaliação sobre ele, uma crítica, apontando os aspectos positivos e negativos. Trata-se, portanto, de um texto de informação e de opinião, também denominado de recensão crítica.
2. Quem é o resenhista
     A resenha, por ser em geral um resumo crítico, exige que o resenhista seja alguém com conhecimentos na área, uma vez que avalia a obra, julgando-a criticamente.
3. Objetivo da resenha
     O objetivo da resenha é divulgar objetos de consumo cultural - livros, filmes peças de teatro, etc. Por isso a resenha é um texto de caráter efêmero, pois "envelhece" rapidamente, muito mais que outros textos de natureza opinativa.
4. Veiculação da resenha
     A resenha é, em geral, veiculada por jornais e revistas.
5. Extensão da resenha
     A extensão do texto-resenha depende do espaço que o veículo reserva para esse tipo de texto. Observe-se que, em geral, não se trata de um texto longo, "um resumão" como normalmente feito nos cursos superiores... Para melhor compreender este item, basta ler resenhas veiculadas por boas revistas.
6. O que deve constar numa resenha

Devem constar:
  • O título
  • A referência bibliográfica da obra
  • Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada
  • O resumo, ou síntese do conteúdo
  • A avaliação crítica
7. O título da resenha
     O texto-resenha, como todo texto, tem título, e pode ter subtítulo, conforme os exemplos, a seguir:
Título da resenha: Astro e vilão
Subtítulo: Perfil com toda a loucura de Michael Jackson
Livro: Michael Jackson: uma Bibliografia não Autorizada (Christopher Andersen) - Veja, 4 de outubro, 1995

Título da resenha: Com os olhos abertos
Livro: Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago) - Veja, 25 de outubro, 1995

Título da resenha: Estadista de mitra
Livro: João Paulo II - Bibliografia (Tad Szulc) - Veja, 13 de março, 1996

8. A referência bibliográfica do objeto resenhado
     Constam da referência bibliográfica:

  • Nome do autor
  • Título da obra
  • Nome da editora
  • Data da publicação
  • Lugar da publicação
  • Número de páginas
  • Preço
Obs.: Às vezes não consta o lugar da publicação, o número de páginas e/ou o preço.
Os dados da referência bibliográfica podem constar destacados do texto, num "box" ou caixa.
Exemplo: Ensaio sobre a cegueira, o novo livro do escritor português José Saramago (Companhia das Letras; 310 páginas; 20 reais), é um romance metafórico (...) (Veja, 25 de outubro, 1995).


9. O resumo do objeto resenhado

     O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral.
     Pode-se resumir agrupando num ou vários blocos os fatos ou ideias do objeto resenhado.

     Veja exemplo do resumo feito de "Língua e liberdade: uma nova concepção da língua materna e seu ensino" (Celso Luft), na resenha intitulada "Um gramático contra a gramática", escrita por Gilberto Scarton.

     "Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática linguística, a postura prescritiva, purista e alienada - tão comum nas "aulas de português".
     O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir, com rigor, gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e linguística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos linguistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do irrelevante".          
                       
      Pode-se também resumir de acordo com a ordem dos fatos, das partes e dos capítulos.

     Veja o exemplo da resenha "Receitas para manter o coração em forma" (Zero Hora, 26 de agosto, 1996), sobre o livro "Cozinha do Coração Saudável", produzido pela LDA Editora, com o apoio da Beal.

Receitas para manter o coração em forma

     "Na apresentação, textos curtos definem os diferentes tipos de gordura e suas formas de atuação no organismo. Na introdução os médicos explicam numa linguagem perfeitamente compreensível o que é preciso fazer (e evitar) para manter o coração saudável.
     As receitas de Cozinha do Coração Saudável vêm distribuídas em desjejum e lanches, entradas, saladas e sopas; pratos principais; acompanhamentos; molhos e sobremesas. Bolinhos de aveia e passas, empadinhas de queijo, torta de ricota, suflê de queijo, salpicão de frango, sopa fria de cenoura e laranja, risoto com açafrão, bolo de batata, alcatra ao molho frio, purê de mandioquinha, torta fria de frango, crepe de laranja e pêras ao vinho tinto são algumas das iguarias".
                                                                                                                             
 10. Como se inicia uma resenha

     Pode-se começar uma resenha citando-se imediatamente a obra a ser resenhada. Veja os exemplos:

     "Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino" (L&PM, 1995, 112 páginas), do gramático Celso Pedro Luft, traz um conjunto de ideias que subvertem a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veementemente, o ensino da gramática em sala de aula.           
                         
     
Mais um exemplo:

      "Michael Jackson: uma Bibliografia Não Autorizada (Record: tradução de Alves Calado; 540 páginas, 29,90 reais), que chega às livrarias nesta semana, é o melhor perfil de astro mais popular do mundo". (Veja, 4 de outubro, 1995).                                 

     Outra maneira bastante frequente de iniciar uma resenha é escrever um ou dois parágrafos relacionados com o conteúdo da obra.

     Observe o exemplo da resenha sobre o livro "História dos Jovens" (Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt), escrita por Hilário Franco Júnior (Folha de São Paulo, 12 de julho, 1996).

O que é ser jovem

Hilário Franco Júnior

     Há poucas semanas, gerou polêmica a decisão do Supremo Tribunal Federal que inocentava um acusado de manter relações sexuais com uma menor de 12 anos. A argumentação do magistrado, apoiada por parte da opinião pública, foi que "hoje em dia não há menina de 12 anos, mas mulher de 12 anos".
     Outra parcela da sociedade, por sua vez, considerou tal veredito como a aceitação de "novidades imorais de nossa época". Alguns dias depois, as opiniões foram novamente divididas diante da estatística publicada pela Organização Mundial do Trabalho, segundo a qual 73 milhões de menores entre 10 e 14 anos de idade trabalham em todo o mundo. Para alguns isso é uma violência, para outros um fato normal em certos quadros sócio-econômico-culturais.
     Essas e outras discussões muito atuais sobre a população jovem só podem pretender orientar comportamentos e transformar a legislação se contextualizadas, relativizadas. Enfim, se historicizadas. E para isso a "História dos Jovens" - organizada por dois importantes historiadores, o modernista italiano Giovanno Levi, da Universidade de Veneza, e o medievalista francês Jean-Claude Schmitt, da École dês Hautes Études em Sciences Sociales - traz elementos interessantes.                                                                                                                             
   

     Observe igualmente o exemplo a seguir - resenha sobre o livro "Cozinha do Coração Saudável", LDA Editores, 144 páginas (Zero Hora, 23 de agosto, 1996).

Receitas para manter o coração em forma

Entre os que se preocupam com o controle de peso e buscam uma alimentação saudável são poucos os que ainda associam estes ideais a uma vida de privações e a uma dieta insossa. Os adeptos da alimentação de baixos teores já sabem que substituições de ingredientes tradicionais por similares light garantem o corte de calorias, açúcar e gordura com a preservação (em muitos casos total) do sabor. Comprar tudo pronto no supermercado ou em lojas especializadas é barbada. A coisa complica na hora de ir para a cozinha e acertar o ponto de uma massa de panqueca, crepe ou bolo sem usar ovo. Ou fazer uma polentinha crocante, bolinhos de arroz e croquetes sem apelar para a frigideira cheia de óleo. O livro Cozinha do Coração Saudável apresenta 110 saborosas soluções para esses problemas. Produzido pela LDA Editora com apoio da Becel, Cozinha do Coração saudável traz receitas compiladas por Solange Patrício e Marco Rossi, sob orientação e supervisão dos cardiologistas Tânia Martinez, pesquisadora e professora da Escola Paulista de Medicina, e José Ernesto dos Santos, presidente do departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia e professor da faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Os pratos foram testados por nutricionistas da Cozinha Experimental Van Den Bergh Alimentos.                                                                                                             
 
 
     Há, evidentemente, numerosas outras maneiras de se iniciar um texto-resenha. A leitura (inteligente) desse tipo de texto poderá aumentar o leque de opções para iniciar uma recensão crítica de maneira criativa e cativante, que leva o leitor a interessar-se pela leitura.

11. A crítica

     A resenha crítica não deve ser vista ou elaborada mediante um resumo a que se acrescenta, ao final, uma avaliação ou crítica. A postura crítica deve estar presente desde a primeira linha, resultando num texto em que o resumo e a voz crítica do resenhista se interpenetram.
     O tom da crítica poderá ser moderado, respeitoso, agressivo, etc.
     Deve ser lembrado que os resenhistas - como os críticos em geral - também se tornam objetos de críticas por parte dos "criticados" (diretores de cinema, escritores, etc.), que revidam os ataques qualificando os "detratores da obra" de "ignorantes" (não compreenderam a obra) e de "impulsionados pela má-fé".

12. Exemplos de resenhas

     
Atwood se perde em panfleto feminista

Marilene Felinto
Da Equipe de Articulistas

     Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom feminista. No Brasil, é mais conhecida pelo romance "A mulher Comestível" (Ed. Globo). Já publicou 25 livros entre poesia, prosa e não ficção. "A Noiva Ladra" é seu oitavo romance.
     O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, procedimento normal em teses acadêmicas, mas não em romances. Lembra também aqueles discursos que autores de cinema fazem depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que consultou para construir o "pano de fundo" de seu texto, até a uma parente, Lenore Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significativa?) expressão "meleca cerebral".
     Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 páginas que poderiam, sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante.
     É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinquentonas que vivem infernizadas pela presença (em "flashback") de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa "femme fatale" que vive roubando os homens das outras.
     Vilã meio inverossímel - ao contrário das demais personagens, construídas com certa solidez -, a antagonista Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua história não emociona. A narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria como superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não conseguiram, reflexo de seus questionamentos internos - eis a leitura mais profunda que se pode fazer desse romance nada surpreendente e muito óbvio no seu propósito.
     Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma personagem mulher "fora-da-lei", porque "há poucas personagens mulheres fora-da-lei". As intervenções do discurso feminista são claras, panfletárias, disfarçadas de ironia e humor capengas. A personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é apelido para Antônia) e é professora de história, especialista em guerras e obcecada por elas, assunto de homens: "Historiadores homens acham que ela está invadindo o território deles, e deveria deixar as lanças, flechas, catapultas, fuzis, aviões e bombas em paz".
     Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas ingênuas: "Há só uma coisa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que afeta as mulheres quando estão com TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo todo". Ou então, a mensagem rabiscada na parede do banheiro: "Herstory Not History", trocadilho que indicaria o machismo explícito na palavra "História", porque em inglês a palavra pode ser desmembrada em duas outras, "his" (dele) e story (estória). A sugestão contida no trocadilho é a de que se altere o "his" para "her" (dela).
     As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro amontoado de fatos cotidianos, almoços, jantares, trabalho, casamento e muita "reflexão feminina" sobre a infância, o amor, etc. Tudo isso narrado da forma mais achatada possível, sem maiores sobressaltos, a não ser talvez na descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras.
     Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé nem cabeça, no meio do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora - em tom cerimonioso na página de agradecimentos - se orgulha de ter realizado.
Estadista de mitra

Na melhor bibliografia de João Paulo II até agora, o jornalista Tad Szulc dá ênfase à atuação política do papa

Ivan Ângelo

     Como será visto na História esse contraditório papa João Paulo II, o único não-italiano nos últimos 456 anos? Um conservador ou um progressista? Bom ou mau pastor do imenso rebanho católico? Sobre um ponto não há dúvida: é um hábil articulador da política internacional. Não resolveu as questões pastorais mais angustiantes da Igreja Católica em nosso tempo - a perda de fiéis, a progressiva falta de sacerdotes, a forma de pôr em prática a opção da igreja pelos pobres -; tornaram mais dramáticos os conflitos teológicos com os padres e os fiéis por suas posições inflexíveis sobre o sacerdócio da mulher, o planejamento familiar, o aborto, o sexo seguro, a doutrina social, especialmente a Teologia da Libertação, mas por outro lado, foi uma das figuras-chave na desarticulação do socialismo no Leste Europeu, nos anos 80, a partir da sua atuação na crise da Polônia. É uma voz poderosa contra o racismo, a intolerância, o consumismo e todas as formas autodestrutivas da cultura moderna. Isso fará dele um grande papa?
     O livro do jornalista polonês Tad Szulc João Paulo II - Bibliografia (tradução de Antonio Nogueira Machado, Jamari França e Silvia de Souza Costa; Francisco Alves; 472 páginas; 34 reais) toca em todos esses aspectos com profissionalismo e competência. O autor, um ex-correspondente internacional e redator do The New York Times, viajou com o papa, comeu com ele no Vaticano, entrevistou mais de uma centena de pessoas, levou dois anos para escrever esse catatau em uma máquina manual portátil, datilografando com dois dedos. O livro, bastante atual, acompanha a carreira (não propriamente a vida) do personagem até o fim de janeiro de 1995, ano em que foi publicado. É um livro de correspondente internacional, com o viés da política internacional. Szulc não é literariamente refinado como seus colegas Gay Talese ou Tom Wolfe, usa com frequência aqueles ganchos e frases de efeito que adornam o estilo jornalístico, porém persegue seu objetivo como um míssil e atinge o alvo.
     Em meio à política, pode-se vislumbrar o homem Karol Wojtyla, teimoso, autoritário, absolutista de discurso democrático, alguém que acha que tem uma missão e não quer dividi-la, que é contra o "moderno" na moral, que prefere perder a transigir, mas é gentil, caloroso, fraterno, alegre, franco... Szulc, entretanto, só faz o esboço, não pinta o retrato. Temos, então, de aceitar a sua opinião: "É difícil não gostar dele".
     Opus Dei - O livro começa descrevendo a personalidade de João Paulo II. Faz um bom resumo da História da Polônia e sua opção pelo Ocidente e pela Igreja Católica Romana (em vez da Ortodoxa Grega, que dominava os vizinhos do Leste), fala da relação mística de Wojtyla com o sofrimento, descreve sua brilhante carreira intelectual e religiosa, volta à sua infância, aos seus tempos de goleiro no time do ginásio "um mau goleiro", dirá mais tarde um amigo), localiza aí sua simpatia pelos judeus, conta que ele decidiu ser padre em meio ao sofrimento pela morte do pai, destaca a complacência de Pio XII com o nazismo, a ajuda a Opus Dei (a quem depois João Paulo II daria todo o apoio), demora-se demais nos meandros da política do bispo e cardeal Wojtyla, cresce jornalisticamente no capítulo sobre a eleição desse primeiro papa polonês, mostra como ele reorganizou a Igreja, discute suas posições conservadoras sobre a Teologia da Libertação e as comunidades eclesiais de base, CEBs, na América latina, descreve sua decisiva atuação na política do Leste Europeu, a derrocada do comunismo, e termina com sua luta atual contra o demônio pós-comunista. Agora o demônio, o perigo mortal para a humanidade, é o capitalismo selvagem e o "imperialismo contraceptivo" dos EUA e da ONU.
     Szulc, o escritor-míssil, não se desvia do seu alvo nem quando vê um assunto saboroso como a Cúria do Vaticano, que diz estar cheia de puxa-sacos e fofoqueiros com computadores, nos quais contabilizam trocas de favores, agrados, faltas e rumores. O sutil jornalista Gay Talese não perderia um prato desses.
     Entretanto, Szulc está sempre atento às ações políticas do papa. Nota que João Paulo II elevou a Opus Dei à prelatura pessoal enquanto expurgou a Companhia de Jesus por seu apoio à Teologia da Libertação; ajudou a Opus Dei a se estabelecer na Polônia, beatificou rapidamente seu criador, monsenhor Escrivã. Como um militar brasileiro dos anos 60, cassou o direito de ensinar dos padres Küng, Pohier e Curran, silenciou os teólogos Schillebeeckx (belga), Boff (brasileiro), Häring (alemão) e Gutiérrez (peruano), reduziu o espaço pastoral de dom Arns (brasileiro). Em contrapartida, apoiou decididamente o sindicato clandestino polonês, a Solidariedade. Fez dobradinha com o general dirigente polonês Jaruzelski contra Brejnev, abrindo o primeiro país socialista, que abriu o resto. O próprio Gorbachev reconhece: "Tudo o que aconteceu no Leste Europeu nesses últimos anos teria sido impossível sem a presença deste papa".
    Talvez seja assim também com relação ao que acontece com as religiões cristãs no nosso continente. Tad Szulc, com cautela, alerta para a penetração, na América Latina, dos evangélicos e pentecostais, que o próprio Vaticano chama de "seitas arrebatadoras". A participação comunitária e o autogoverno religioso que existia nas CEBs motivavam mais a população. Talvez seja. Acrescentando-se a isso o lado litúrgico dos evangélicos que satisfaz o desejo dos fiéis de serem atores no drama místico, não tanto espectadores, tem-se uma tese.
     O perfil desenhado por Szulc é o de um político profundamente religioso. Um homem que reza sete horas por dia, com os olhos firmemente fechados, devoto de Nossa Senhora de Fátima e do mártir polonês São Estanislau e que acredita no martírio e na dor pessoais para alcançar a graça.

Um gramático contra a gramática

Gilberto Scarton
     Língua e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM, 1995, 112 páginas) do gramático Celso Pedro Luft traz um conjunto de ideias que subverte a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veemente, o ensino da gramática em sala de aula.
     Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática linguística, a postura prescritiva, purista e alienada - tão comum nas "aulas de português".
     O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir, com rigor, gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e linguística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos linguistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do irrelevante.
     Essa fundamentação linguística de que lança mão - traduzida de forma simples com fim de difundir assunto tão especializado para o público em geral - sustenta a tese do Mestre, e o leitor facilmente se convence de que aprender uma língua não é tão complicado como faz ver o ensino gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser humano; um processo espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer. Consciente de esse poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de preconceitos e do artificialismo do ensino definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno poderá ter a palavra, para desenvolver seu espírito crítico e para falar por si.
     Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto pareça ser para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos ao longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente fundamentação que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores - vítimas do ensino tradicional - e os professores de português - teóricos, gramatiqueiros, puristas - têm ao se depararem com uma obra de um autor de gramáticas que escreve contra a gramática na sala de aula.



Fonte: http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php  acesso em  20/05/2014.

quarta-feira, 19 de junho de 2013



ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS PARA LEITURA DE "FITA VERDE NO CABELO", DE GUIMARÃES ROSA

Antes da leitura:

Chamar a atenção para o subtítulo do conto. Por que “nova velha história”?
Ressaltar o estilo rosiano; prosa poética, uso de neologismo, universalização. (Por conta do estilo peculiar de Guimarães Rosa, sugere-se que esse texto seja trabalhado no 3º ano do EM, depois de os alunos já conhecerem um pouco do autor).Se estiverem com o livro, chamar a atenção também para as ilustrações. Em que medida elas formam, informam ou deformam a compreensão do texto?

Fita Verde No Cabelo (Nova velha história)

Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. 
Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita inventada no cabelo.
Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita - Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas.
Daí, que, indo no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido, nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. Então ela, mesma, era quem dizia: "Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou". A aldeia 
e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.
E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe correndo, em pós. 
Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto passa por elas passa. Vinha sobejadamente.
Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu:
-"Quem é?"
-"Sou eu..." - e Fita Verde descansou a voz. - "Sou sua linda netinha, com cesto e com pote, com a Fita Verde no cabelo, que a mamãe me mandou."
Vai, a avó difícil, disse: - "Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus a abençoe."
Fita Verde assim fez, e entrou e olhou.
A avó estava na cama, rebuçada e só. Devia, para falar agagado e fraco e rouco, assim, de ter apanhado um ruim defluxo. Dizendo: -"Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo."
Mas agora Fita Verde se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou:
-"Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!"
-"É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta...." - a avó murmurou.
-"Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados".
-"É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta..." - a avó suspirou.
-"Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido?"
-"É porque já não estou te vendo, nunca mais, minha netinha...." - a avó ainda gemeu. 
Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez.
Gritou: - "Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!..."
Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo.

Guimarães Rosa

Durante a leitura:
 Promover a leitura compartilhada, fazendo as inferências necessárias;
 Ir pontuando as características de estilo de Guimarães Rosa 
durante a leitura. Por exemplo: o neologismos – velhavam, agagado, encurtoso, inalcançar; o prosa poética – 4º parágrafo;

Depois da leitura:
 Provocar a reflexão sobre o texto através de questionamentos:
 O texto de Rosa dialoga com qual outro texto da literatura universal (intertextualidade com Chapeuzinho 
Vermelho)? Em que eles se aproximam ou se distanciam?
 Por que a fita era “verde” e “inventada”? Esse questionamento abre a reflexão sobre a temática do texto, ou seja, o processo de crescimento da menina (verde = imaturidade; inventada = que pertence ao mundo da imaginação). Tal processo evidencia-se por pistas linguísticas, a saber:
• “Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto.” A menina ainda não tinha juízo, ou seja, ainda estava na fase da infância. Ressalta-se a expressão “tudo era uma vez” (2º parágrafo);
• “e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas.” O cesto vazio metaforiza tudo o que a menina ainda tinha a aprender.
• “depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.” A palavra “moinho” metaforiza a passagem do tempo, isto é, do crescimento da menina.
• “Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez.” Essa expressão confronta o primeiro parágrafo, quando a menina ainda não tinha maturidade (juízo).
• “Gritou: - "Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!..." Questionar o que a palavra Lobo (grafada com maiúscula) pode significar no contexto da trama (medo do desconhecido, da vida, da passagem da infância para a adolescência? São possíveis reflexões.)

Obs. É interessante que o professor faça a leitura do anexo 1 – Uma leitura do conto “Fita Verde no Cabelo”, de Guimarães Rosa, por Érica Antunes.
Como leitura de fruição, depois da análise feita do conto de Guimarães Rosa, sugere-se a leitura de Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque.




quarta-feira, 5 de junho de 2013

O homem sem sorte
Vivia perto de uma aldeia um homem, um homem que era completamente sem sorte. Nada do que ele fazia dava certo. Muitas vezes ele plantava sementes e o vento vinha e as levava, outras vezes, era a chuva, que vinha tão violenta e carregava as sementes. Outras vezes ainda, as sementes permaneciam sob a terra, mas o sol, era tão quente, que as cozinhava. E ele se queixava com as pessoas e as pessoas escutavam suas queixas, da primeira vez com simpatia, depois com um certo desconforto e enfim quando o viam mudavam de caminho, ou entravam para dentro de suas casas fechando portas e janelas, evitando-o.
Então além de sem sorte, o homem se tornou chato e muito só. Ele começou a querer achar um culpado para o que acontecia com ele. Analisando a situação de sua família percebeu que seu pai era um homem de sorte, sua mãe, esta tinha sorte por ter se casado com seu pai, e seus irmãos eram muito bem sucedidos, pois então, se não era um caso genético, só poderia ser coisa do Criador. E depois de muito pensar resolveu tomar uma atitude e ir até o fim do mundo falar com o Criador, que como Criador de tudo, deveria ter uma resposta.
Arrumou sua malinha, algum alimento e partiu rumo ao fim do mundo. Andou um dia, um mês, um ano e um dia, e pouco antes de entrar numa grande floresta ouviu uma voz:
- Moço, me ajude. Ele então olhou para os lados procurando alguém. Até que se deparou com um lobo, magro, quase sem pelos, era pele e osso o infeliz. Dava para contar suas costelas.
Ele falou:

- Há três meses estou nesta situação. Não sei o que está acontecendo comigo. Não tenho forças para me levantar daqui.
O homem refeito do susto respondeu:
- Você está se queixando a toa... Eu tive azar a vida inteira. O que são três meses? Mas faça como eu. Procure uma resposta. Eu estou indo procurar o Criador para resolver o meu problema.
- Se eu não tenho forças nem para ir ao rio beber água... Faça este favor para mim. Você está indo vê-lo, pergunte o que está acontecendo comigo. O homem fez um sinal de insatisfação e disse que estava muito preocupado com seu problema, mas se lembrasse, perguntaria. Virando as costas, continuou seu caminho.
Andou um dia, um mês, um ano e um dia e de repente, ao tropeçar numa raiz, ouviu:
- Moço, cuidado. E quando olhou, viu uma folhinha que vinha caindo, caindo; Olhando para cima, viu a árvore com apenas duas folhinhas.
Levantou-se e observando suas raízes desenterradas, seus galhos retorcidos, sua casca soltando-se do tronco, falou:
- Você não se envergonha? Olhe as outras árvores a sua volta e diga se você pode ser chamada de árvore? Conserte sua postura.
A árvore, com uma voz de muita dor, disse:
- Não sei o que está acontecendo comigo. Estou me sentindo tão doente. Há seis meses que minhas folhas estão caindo, e agora, como vês, só restam duas... E, no fim de uma conversa, pediu ao homem que procurasse uma solução com o Criador.
Contrariado, o homem virou as costas com mais uma incumbência. Andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou a um vale muito florido, com flores de todas as cores e perfumes. Mas o homem não reparou nisto. Chegou até uma casa e na frente da casa estava uma moça muito bonita que o convidou a entrar.
Eles conversaram longamente e quando o homem deu por si já era madrugada. Ele se levantou dizendo que não podia perder tempo e quando já estava saindo ela lhe pediu um favor:
- Você que vai procurar o Criador, podia perguntar uma coisa para mim? É que de vez em quando sinto um vazio no peito, que não tem motivo, nem explicação. Gostaria de saber o que é e o que posso fazer por isto.
O homem prometeu que perguntaria e virou as costas e andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou por fim ao fim do mundo. Sentou-se e ficou esperando até que ouviu uma voz. E uma voz no fim do mundo, só podia ser a voz do criador...
- Tenho muitos nomes. Chamam-me também de Criador...
E o homem contou então toda a sua triste vida. Conversou longamente com a voz até que se levantou e virando as costas foi saindo, quando a voz lhe perguntou:
- Você não está se esquecendo de nada? Não ficou de saber respostas para uma árvore, para um lobo e para uma jovem?
- Tem razão... E voltou-se para ouvir o que tinha que ser dito.
Depois de um tempinho virou-se e correu... mais rápido que o vento até que chegou na casa da jovem. Como ela estava em frente à casa, vendo-o passar chamou:

- Ei!!! Você conseguiu encontrar o Criador? Teve as respostas que queria?
- Sim!!! Claro! O Criador disse que minha sorte está há muito no mundo. Basta ficar alerta para perceber a hora de apanhá-la!
- E quanto a mim, você teve a chance de fazer a minha pergunta?
- Ah! O Criador disse que o que você sente é solidão. Assim que encontrar um companheiro vai ser completamente feliz, e mais feliz ainda vai ser o seu companheiro.
A jovem então abriu um sorriso e perguntou ao homem se ele queria ser este companheiro.
- Claro que não... Já trouxe a sua resposta... Não posso ficar aqui perdendo tempo com você. Não foi para ficar aqui que fiz toda esta jornada. Adeus!!!
Virando as costas, correu mais rápido do que a água, até a floresta onde estava a árvore. Ele nem se lembrava dela.
Mas quando novamente tropeçou em sua raiz, viu caindo uma última folhinha. Ela perguntou se ele tinha uma resposta, ao que o homem respondeu:
- Tenho muita pressa e vou ser breve, pois estou indo em busca de minha sorte, e ela está no mundo.
O Criador disse que você tem embaixo de suas raízes uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. O ferro desta caixa está corroendo suas raízes. Se você cavar e tirar este tesouro daí vai terminar todo o seu sofrimento e você vai poder virar uma árvore saudável novamente.
- Por favor!!! Faça isto por mim!!! Você pode ficar com o tesouro. Ele não serve para mim. Eu só quero de novo minha força e energia. O homem deu um pulo e falou indignado:
- Você está me achando com cara de quê? Já trouxe a resposta para você. Agora resolva o seu problema. O Criador falou que minha sorte está no mundo e eu não posso perder tempo aqui conversando com você, muito menos sujando minhas mãos na terra.
Virando as costas correu, mais rápido do que a luz atravessou a floresta, e chegou onde estava o lobo, mais magro ainda e mais fraco.
O homem se dirigiu a ele apressadamente e disse:
- O Criador mandou lhe falar que você não está doente. O que você tem é fome. Está a morrer de inanição, e como não tem forças mais para sair e caçar, vai morrer aí mesmo. A não ser, que passe por aqui uma criatura bastante estúpida, e você consiga comê-la.
Nesse momento, os olhos do lobo se encheram de um brilho estranho, e reunindo o restante de suas forças, o lobo deu um pulo e comeu o homem "sem sorte".



"SOMOS O QUE FAZEMOS, MAS SOMOS PRINCIPALMENTE
O QUE FAZEMOS PARA MUDAR O QUE SOMOS".

"A leitura realiza uma verdadeira metamorfose no espírito humano"  (Luzia Alves)

domingo, 2 de junho de 2013

Coesão e Coerência Textuais

COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS

       Um texto pode ser incoerente se o  autor não consegue inferir um sentido ou uma ideia através da articulação de suas frases e parágrafos e por meio de recursos linguísticos (pontuação, vocabulário, etc.).
A coerência textual é a relação lógica entre as ideias; é o resultado da não-contradição entre as partes do texto; e progressão deste, com a introdução de ideias secundárias que garantem suporte à ideia principal.
    As crianças estão morrendo de fome por causa da riqueza do país. 
    Adoro sanduíche porque engorda.
    As frases acima são contraditórias; não apresentam informações claras, portanto, são incoerentes.


Exemplo de um texto incoerente: 

Está redação foi feita pelo aluno Rodrigo Longo do Colégio Dom Bosco, no dia 20/04/04. 

Viva a educação brasileira!
O vestibular é muito polêmico, e agora o governo resolveu fazer cotas para negros e prá quem veio de escola pulblica.
No caso dos negros,é injusto, já que 50% dos negros nascem pretos, e a metade não. Mas isso ficaria indeciso, pois existem pessoas como o Maicon Jecksson que násceram pretas e não brancas, então pode- se alegar que um loiro têm descendência afro-africana, bem como os orientais.
Logo, podemos dar cotas aos alcólatras, pois estes seguem o exemplo do Presidente. Mas para evitar a complicação do vestibular o ideal seria o sorteio de vagas, assim só os sortudos conseguiriam entrar na faculdade, ou seja, além de um profissional competente, o cara iria ser um profissional de sorte.
É uma pouca vergonha o sistema de cotas, porque os homossexuais seriam desfavorecidos perante ao curso superior, novamente mais um motivo para o Presidente ser bêbado. E não são todas as pessoas que tem oportunidade de estudar em uma boa escola como o COLÉGIO DOM BOSCO.
Todavia, a metodologia do vestibular é totalmente ineficiente e fálico, pois se descobrirem vida em outros planetas o conceitos dos concursos ' Miss Universo' teriam de ser repensados.Desejo a todos uma boa viagem.


segunda-feira, 11 de março de 2013

Ambiguidade

Ambiguidade

Espera-se, com essa sequência didática, que os alunos desenvolvam habilidades de:

*entender o que é ambiguidade;
*perceber a ambiguidade em situações de uso incorreto, como um problema estrutural e semântico;


*perceber a distinção dos usos da ambiguidade: de um lado o uso incorreto e de outro seu uso como recurso estilístico;
*elaborar textos, explorando a ambiguidade como recurso estilístico;
*problematizar e avaliar as possibilidades de uso da ambiguidade, aplicando-a em textos próprios.



SEGMENTO DE ENSINO E SÉRIES ENVOLVIDAS:

Alunos de Ensino Superior
( 1ª a 3ª séries)

Alunos do Ensino Superior

Duração das atividades
6 aulas (duas horas/aula de 1h e 40 min. e duas horas/aula de 50 min.)

 Estratégias

1) Pedir para que os alunos  anotem observações sobre as imagens a seguir:






2) Terminada a atividade, converse com os alunos sobre a possibilidade de um texto transmitir mais de uma mensagem, seja ele composto por linguagem verbal, não verbal, ou por ambas.

3) Definir o que é Ambiguidade
 Ambiguidade é a possibilidade de uma mensagem ter dois sentidos. Ela geralmente é provocada pela má organização das palavras na frase. A ambiguidade é um caso especial de polissemia, isto é, a possibilidade de uma palavra apresentar vários sentidos em um contexto.
4) Mostrar que nas propagandas a Ambiguidade é “bem-vinda”

Mas que em situações em que o texto necessita de clareza, ela não deve acontecer:

A ambiguidade é muito utilizada também para
criar humor

Doutor, já quebrei o braço em vários lugares.
- Se eu fosse o senhor, não voltava mais para esses lugares.

O bêbado está no consultório e o médico diz:
- Eu não atendo bêbado.
- Então quando o senhor estiver bom eu volto - disse o bêbado.

Às vezes, um texto ambíguo provoca situações desconfortáveis ao falante:

Outras vezes, um texto ambíguo provoca dúvidas no leitor/ouvinte:

Você sabe como é que muda pede café?
- Tira o pé de café de um lugar e planta em outro.
 (muda /     pede     /   café)
(muda /  pé   /  de   /  café)

Em alguns casos, o leitor precisa conhecer certas expressões, gírias de uma época, para entender uma propaganda ambígua:
Quando um significado é compartilhado (estereótipo), fica fácil entender a ambiguidade:



Elementos linguísticos causadores de Ambiguidade:
a)  Problemas com o uso de pronomes possessivos:
Raquel preparou a pesquisa com Silvio e fez sua apresentação. ( Raquel fez a sua apresentação ou a apresentação de Silvio?).

Como resolver:
•  Raquel e Sílvio prepararam a pesquisa, e ambos fizeram a apresentação.
•  Raquel e Sílvio prepararam a pesquisa, e ele fez a apresentação dele.
•  Raquel e Sílvio prepararam a pesquisa, e ela fez a apresentação dela.

b)  Problemas com o uso de pronomes relativos: 

Visitamos o teatro e o museu cuja qualidade artística é inegável. (É o teatro ou o museu que possui qualidade artística?).


Como resolver:





• Visitamos o teatro e o museu, os quais têm qualidade artística.
• Visitamos o teatro e o museu, e aquele tem qualidade artística.
• Visitamos o teatro e o museu, e este tem qualidade artística.

c)  Colocação inadequada de palavras:  
O cliente aborrecido recusou o vinho por causa da safra. (O cliente era aborrecido ou ficou aborrecido naquele momento?)



Como resolver: 
• O cliente recusou aborrecido o vinho por causa da safra.
• O cliente, que era aborrecido, recusou o vinho por causa da safra.

d)  Sentido indistinto entre agente e paciente:
A recepção dos noivos foi no salão do clube. (a recepção foi oferecida pelos noivos ou eles foram recepcionados?).

Como resolver:



• A recepção foi oferecida pelos noivos no salão do clube.

• Os noivos foram recepcionados no salão do clube.



e)  Uso indistinto entre o pronome relativo e a conjunção integrante:
 O motorista falou com o passageiro que era gaúcho. (O motorista era gaúcho ou o passageiro).

Como resolver:



• O motorista disse que era gaúcho ao passageiro.

• O motorista conversou com o passageiro gaúcho.




f)   Problemas com o uso de formas nominais:

O pai viu o filho chegando em casa bem tarde. (quem chegou em casa bem tarde: o pai ou o filho?).


Como resolver:

• O pai viu o filho que chegava em casa bem tarde.

• O pai, ao chegar em casa bem tarde, viu o filho.




Tarefas:


*Procurar exemplos de frases ambíguas no Google;
*Criar  uma propaganda, utilizando o programa
Corel Draw, ou utilizar uma de peça já existente, mas elaborar o texto ambíguo para esta peça;
*Postar as propagandas no blog da turma e no Google
Docs;
*Convidar os colegas para acessá-las, no twitter;
*Compartilhar no facebook  a atividade desenvolvida.

AVALIAÇÃO:


—1- Considerar o  desempenho do aluno no processo de formação do conhecimento. Verificar se ele conseguiu compreender o que significa ambiguidade, quando ela é um recurso e quando representa um erro.

2- —Avaliar  a desenvoltura e a adequação da linguagem, mas também o comportamento com relação à escuta, nas exposições orais.

—3- Nas atividades escritas, apontar os erros, mas não corrigir: problematizar essas incorreções para que o aluno reflita sobre os usos da língua. Assim, ele aprenderá mais, corrigindo os próprios erros.

—4- Propor que eles avaliem o que aprenderam e como se deu esse processo. Se ainda houver dúvidas, não hesitar em convidar outros alunos para ajudar aos colegas que ainda não se apropriaram dos conceitos estudados.
     —A intenção da avaliação é  diagnóstica e formativa, visando a comparar os conhecimentos do aluno consigo mesmo.

Recursos Complementares
http://www.brasilescola.com/redacao/ambiguidade.htm , texto didático sobre ambiguidade 
http://www.youtube.com/watch?v=vNr-iF3ZWzk, aula sobre ambiguidade e paráfrase
www.portaldoprofessor.mec.gov.br